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DETRAN

Fui ao DETRAN da cidade renovar minha CNH. Levei quatro horas no lugar passando de departamento em departamento, de “não é aqui” em “não é aqui”. Brigas, decepções e um dedo na cara depois, alguém achou minha CNH.

Sol Quente

Voltando para casa, caminhei 15 minutos no sol quente – meio puto – com headphones ligados em System Of A Down. Continuei minha viagem até chegar à parada para esperar minha condução.

A parada ficava em frente à rodoviária da cidade. Haviam pessoas passando, conversando, um trânsito intenso, ônibus de um lado pro outro, meia dúzia de rapazes suspeitos com um objeto em chamas, fumaçando, passando de mão em mão.

Hope

Foi quando Hope apareceu. Não sei se Hope sabe que ele foi o nome que lhe dei.

Em meio à floresta de concreto, foi contrastante encontrar um “ser vivo” ali no meio.

Hope apareceu numa árvore.

Eu a notei apenas por culpa da filhinha de uma senha gritando “Olha mãe, o macaquinho!”

Hope olhou desconfiada, mas a menina foi insistente e resolveu oferecer sua pipoca.

Hope, tímida, fez corpo mole, arregalou os olhos, veio um pouco para perto e voltou.

Correu. Desapareceu.

E continuei ouvindo os carros passando.

“Porra!”, falei. Sabe quando o ônibus para bem na sua frente, abre a porta e você tem que sair da frente ou ninguém desce? É, lá estava eu estressado de novo e a porcaria do meu ônibus não passava e esses carros não param de buzinar e tem esse rapaz andando de lá para cá que é melhor eu tomar cuidado e…

Timidamente, ela vem de novo.

A menininha já foi embora. Pelo menos melhor que eu espere do que uma menininha de uns 5 anos de idade. Então, as novas pessoas que estava na parada – e eu, que estava lá havia meia hora – foram falar com ela. Foi interessante quando um dos ambulantes pegou um pedaço de tapioca que ele estava comendo, colocou num lugar específico e disse “espera que ela desce”.

E lá veio Hope. Pegou a tapioca.

Correu para cima da árvore e comeu por lá.

Alguns mais minutos passaram e ela voltou. Uma moça que lá estava repetiu o truque do rapaz, dessa vez com um pedaço de pamonha de outro ambulante. Hope chegava pertinho, olhava, parecia conversar, parecia gostar da gente.

Certamente, muita gente gostava dela.

A insistência da Hope em cativar as pessoas não parava. Ela lá estava apenas sendo ela.

Natural.

Tranquila.

Feliz.

E comendo pamonha e tapioca.

Eu, que antes puto estava, parecia ter esquecido os sons, os batidos, os freios, as buzinas e o estresse do DETRAN.

Meu ônibus chegou. Dei uma última olhada para ela e, baixinho, falei.

There is still Hope

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